BRASIL POLÍTICA

JORNAIS DEFENDEM JORNALISTA MAS NÃO FALAM PORQUÊ FOI PRESA

Na edição de ontem, 4, do Jornal Nacional, o âncora William Bonner leu o editorial do Grupo Globo sobre o deboche do deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, à tortura de Míriam Leitão durante a Ditadura Militar (1964-1985). A empresa classificou o ataque como “inaceitável”.

Na ocasião, Míriam Leitão foi presa grávida em um porão com uma cobra. Eduardo zombou da situação e escreveu que tem pena do animal que estaria preso com a jornalista.

“Foi repugnante, ofensiva e absolutamente inaceitável a manifestação do deputado Eduardo Bolsonaro que fez referência a tortura sofrida pela jornalista Míriam Leitão, colunista d’O Globo, durante a ditadura militar”, iniciou Bonner.

“Em post publicado em uma rede social, contestando uma crítica feita por Míriam ao presidente Jair Bolsonaro (PL), que ela o chamara de ‘inimigo confesso da democracia’, Eduardo Bolsonaro zombou de um dos episódios mais dramáticos e cruéis da vida dela: a tortura que foi submetida nos porões da ditadura enquanto estava grávida”, continuou.

“A manifestação do deputado deve ser repudiada com toda veemência. É incompatível, não apenas com o que se espera de um detentor de mandato popular, mas, sobretudo, com a decência e o respeito humanos. Merece além do repúdio firme, providências das instituições obrigadas constitucionalmente a zelar pelo Estado de Direito”, finalizou Bonner.

PORQUE O JORNAL NÃO FALOU O PORQUE QUE A JORNALISTA HAVIA SIDO PRESA?

Está nos documentos do senado federal

ACESSE O SITE DO SENADO FEDERAL

Um documento é de 10 de setembro de 1973. Assinado pelo então comandante militar do Planalto, general Olavo Vianna Moog, e intitulado “Infiltrações subversivas no meio universitário de Brasília”, relata a prisão de 33 “elementos”, estudantes da Universidade de Brasília, e cita 140 cujos nomes foram obtidos nos depoimentos dos detidos. Uma pessoa citada nos depoimentos é a hoje jornalista da Globo Miriam Leitão.

MIRIA LEITÃO RINHA ENVOLVIMENTO COM MACONHA E ERA COMUNISTA DO PARTIDO PROIBIDO POR SER COMUNISTA PCDOB

“Miriam escreveu-lhe de Vitória relatando os trabalhos que lá estavam sendo realizados no movimento estudantil e a organização da regional do PC do B, que acabou sendo desbaratada em fins do ano passado, com a prisão dela e outros”, diz o documento. Em entrevista ao jornal cearense O Povo publicada na edição de ontem, Miriam Leitão confirma que militava no PC do B e foi presa em 1972.

No relatório há o quadro com os cursos de cada aluno e o motivo alegado para a prisão, que poderia ser “uso de maconha”, “subversão”, “ligação com organizações” e até “pederastia”. “E tudo isso acontece embora esteja o governo ciente da ação do MCI (Movimento Comunista Internacional) quanto à utilização dos tóxicos no meio estudantil para degradar a juventude

A FAMOSA LUTA ARMADA ERA DE COMUNISTAS CONTRA O EXÉRCITO BRASILEIRO

Quatro de setembro de 1969, uma quinta-feira no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Onze homens e uma mulher estão prestes a colocar em prática o que seria uma das mais ousadas ações da luta armada contra a ditadura militar no Brasil.

O então embaixador americano, Charles Elbrick, era transportado pelo motorista num Cadillac. Depois de uma tocaia de algumas horas, o carro aponta em uma das esquinas. Um integrante do grupo dá o sinal combinado e levanta o jornal que segurava. Outro, manobra um fusca e atravessa a frente do Cadillac. O embaixador é sequestrado.

No Cadillac ficam o motorista de Elbrick, um manifesto para publicação nos jornais e a exigência de libertação de 15 presos políticos. Eles deveriam desembarcar no México no dia 7 de setembro.

O jornalista, então estudante Franklin Martins, que chegou a ser preso antes da decretação do AI-5, apresentou o plano do sequestro, dias antes, à Dissidência Comunista da Guanabara. Daniel Aarão Reis, que já havia participado de ações armadas, ouviu e concordou.

O historiador sempre achou que, com apoio popular, o governo militar teria sido derrubado no Brasil. Ele próprio, preso e torturado em 1970, acabou sendo exilado depois do sequestro de outro embaixador. O do americano Charles Elbrick queria anunciar ao país a existência de um movimento contra a ditadura.

“Nós considerávamos razoável pedir quinze vidas em troca da vida do embaixador. A ditadura era aliada e submissa ao governo dos Estados e logo aceitou”, afirma Reis.

A ação, além de pedir a libertação dos 15 presos políticos, entre eles o ex-ministro José Dirceu, com 23 anos na época, tinha um horizonte mais ambicioso.

“A existência de um movimento revolucionário, que iria se desdobrar no ano seguinte em um processo de guerrilhas rurais. Isso não aconteceu. Éramos muito otimistas na época a respeito das perspectivas da luta revolucionária no Brasil”, completa o hoje historiador.

Mais de cem endereços eram monitorados por forças policiais durante o sequestro. Charles Elbrick foi libertado com um machucado leve na testa, fruto de uma coronhada assim que foi pego. Uma viatura que vigiava a casa usada como cativeiro se perdeu na perseguição aos sequestradores.

O economista e ex-guerrilheiro Paulo de Tarso Venceslau, pertenceu ao grupo liderado por Virgílio Gomes da Silva, brutalmente assassinado dias depois.

Conhecido como Jonas, Virgílio fez treinamento militar em Cuba e integrou a Ação Libertadora Nacional. Morreu no dia seguinte à prisão, após uma sessão de tortura em São Paulo.

“Ele foi assassinado e a repressão se vangloriava disso. Ele foi visto lá na Rua Tutóia (no DOI-CODI, centro de repressão e tortura durante o regime militar), em São Paulo, onde foi espancado. Eu, por exemplo, ainda tinha massa encefálica do Jonas grudada na parede”, relembra Paulo de Tarso Venceslau.

A guerrilha foi combatida pela Operação Bandeirantes, Oban, criada com ajuda financeira de empresários, em seguida à edição do AI-5.

A Oban foi sucedida pelo DOI-CODI, que ficou conhecido pelas torturas que abrigava. O gaúcho Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel do Exército, tornou-se o primeiro chefe do órgão, onde ficou entre 1970 e 1974.

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