Foram milhares de mensagens e muitas, muitas mesmo, ligações, assim que a vendedora Alessandra – que pediu para não ter o sobrenome divulgado – descreve o dia a dia dela após o número dela ser citado na música “Bloqueado”, novo hit do sertanejo Gusttavo Lima. A moradora de Fátima do Sul, interior de Mato Grosso do Sul, que disse “não ter mais paz” entrou com ação na Justiça depois que fãs começaram a insultar com xingamentos.
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Em “Bloqueado”, Gusttavo Lima canta a história de um homem apaixonada que na busca por um amor antigo, remete-se ao número de telefone, mas que foi bloqueado pela paixão do passado.
Nas frases antes do refrão da música, o número de telefone de Alessandra é citado (leia abaixo). O clipe, lançado em novembro de 2021, já tem quase de 36 milhões de visualizações no canal oficial do cantor no YouTube.
“9912-5003
Olha eu recaindo outra vez
Lembrei que ‘tô’ bloqueado
É muita raiva misturada com tristeza
Olha eu chorando e dando porrada na mesa
Derrama, derrama cerveja”
Com apenas esta citação, Alessandra teve uma mudança drástica na rotina diária. O g1MS conversou com a vendedora que detalhou ter que bloquear números novos e recusar inúmeras ligações diariamente.
“São mais de 300 ligações e 2 mil mensagens por dia. Eu não posso trocar de número, trabalho como vendedora e meu número é meu meio de trabalho, tenho este número há muito tempo”, detalha a vendedora.
Alessandra lembra que desde o lançamento da música no YouTube, em novembro de 2021, foi imediata a enxurrada de mensagens e ligações mencionando o trecho da canção ou pedindo para desbloquear Gusttavo Lima.
“Foi desde de novembro, do primeiro dia de lançamento começaram a me ligar. Começaram a me mandar mensagem com trecho da música. Agora que explodiu a música, a situação ficou completamente desconfortável”.
Cantor Gusttavo Lima em show em Florianópolis — Foto: Caio Graça/Divulgação
Cantor Gusttavo Lima em show em Florianópolis — Foto: Caio Graça/Divulgação
A avalanche de mensagens e ligações, em sua maioria são de pessoas com o DDD de Mato Grosso do Sul, fez com que a vendedora perdesse vendas e adotasse novas formas para o uso do celular. Inclusive, durante a conversa com o g1MS, o som das notificações foram contínuos, a toda momento.
“Minha vida virou um inferno, não tenho paz. Ligações eu não atendo, acho que são fãs do Gusttavo Lima e não atendo. Até no meio da madrugada eles ficam me ligando. Toda hora. Você está me ligando e pessoas estão me ligando e mandando mensagem. É um constrangimento enorme, as pessoas não respeitam”, revelou.
‘Tentei resolver’
Alessandra diz não ter sossego.
Diante da situação desconfortável, Alessandra entrou com uma ação judicial por danos morais e perturbação do sossego alheio contra Gusttavo Lima. Antes entrar com medida na Justiça, a vendedora relembra que chegou a entrar em contato com a produção do cantor.
“A produção fez pouco caso, como não teve efeito, entrei com a ação, não é justo. Eu liguei na produção a primeira vez e disseram para eu trocar de chip. Porque ele não comprou um chip com um número para música?”, disse.
Além da situação não resolvida, outro motivo apresentado por Alessandra para que ela entrasse com ação foi que as pessoas começaram a xingá-la em mensagens e ligações.
“Ele que colocasse o número dele. As pessoas começaram a ser mais agressivas, pediam para eu desbloquear o Gusttavo Lima, começaram a me xingar de oportunista e entrei com ação. Não cheguei a receber ameaça, mas a pessoa começou a me falar que sou oportunista e desaforada. Os fãs não me deixam em paz, é de dia, tarde, noite”, finaliza.
OUTRA MULHER ENTROU COM PROCESSO E GANHOU
Ela processou o cantor após ter seu número de celular citado em um trecho da música “Lembrei que tô bloqueado”. O advogado de defesa dela, Fabiano Giaretta, afirma que ela usa o número desde 2009.
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O g1 procurou a defesa do cantor Gusttavo Lima, mas ainda não recebeu resposta.
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Após o lançamento da música em novembro de 2021, a vítima passou a receber inúmeras ligações diariamente, além de mensagens. Muitas delas, segundo Giaretta, com conteúdo pornográfico e ameaças.
“Ela sofre importação do sossego, porque recebe inúmeras mensagens até hoje. É importante deixar claro que ela não processou o Gusttavo Lima para ter fama, tanto que ela não quer que saibam o seu nome. Ela só quer que o dano causado a ela seja indenizado, visto tamanha importunação contra ela,” disse o advogado.
A decisão
A decisão de 19 de julho deste ano é assinada pelo juiz leigo Daniel Proença Larsson, e homologada pelo juiz de direito de Pato Branco, Luiz Henrique Vianna Silva, na mesma data.
De acordo com a decisão, o cantor alegou que não houve danos morais, uma vez que o número dela não aparece completo na canção. Além disso, diz o documento, a defesa de Gusttavo Lima argumentou que os prints de conversas do WhatsApp usados pela vítima no processo não podem ser considerados provas.
Porém, a Justiça entendeu que mesmo havendo a existência de vários DDD’s no país com tal número, não significa que o cantor poderia usá-lo, de forma aleatória, sem respeitar ou saber da real titularidade.
“Ora, sabe-se que existem mais de 214 milhões de habitantes em nosso país, pelo que é extremamente provável que números aleatórios tenham seus respectivos proprietários,” diz trecho da decisão.
A sentença cita
A sentença cita ainda que o caso da mulher de Pato Branco não é isolado e que há outros processos, de igual teor, tramitando em outras cidades brasileiras o que reforça a tese de que o cantor “não se precaveu para evitar tais problemas, pelo que não há que se falar em ausência de culpa.”
Outro trecho da decisão cita que as mensagens encaminhadas à mulher mencionavam explicitamente a canção de Gusttavo Lima. Por isso, avaliaram os magistrados, o pagamento de indenização é necessário por não haver como restituir os danos psicológico causados a ela.
“A fixação de montante financeiro representa, de fato, uma compensação pelo injusto sofrimento mental causado por outrem, servindo de reparação ao dano moral sofrido,” diz trecho.