18/05/2023
João Augusto de Almeida, 47, foi traído pela ex-mulher após 16 anos de relacionamento. Natural de Laje (BA), João morava em Morro de São Paulo há alguns anos e trabalhava na área de hotelaria quando descobriu a infidelidade.
Foi em um final de tarde observando o pôr do sol que João teve uma ideia que mudaria os rumos da sua vida. Enquanto lia o romance “O Homem Mais Inteligente da História”, de Augusto Cury, ele percebeu que já era hora de deixar a tristeza de lado e abrir o “Drink do corno feliz”, uma barraca de bebidas que hoje é point no Mirante do Farol.
Ele contou a sua história
“Trabalhava como agricultor em Laje e, no período de férias, vinha a Morro de São Paulo. A primeira vez que vim para cá foi entre 1995 e 1996. Trabalhava nas temporadas e voltava. Depois, me mudei definitivamente para cá, logo nos anos 2000.
Conheci uma mulher, com quem me casei e tive duas filhas. Tinha comprado terreno e construído uma casa. Trabalhava no ramo da hotelaria e cheguei a atender artistas como Carla Perez e Gugu Liberto. Sempre fui um bom garçom e, com a experiência, adquiri articulação. Tudo mudou em 2016, quando descobri que havia sido traído.
Assim que descobri que estava sendo traído, eu não pensei muito e tive que lidar com a situação. Resolvi a separação, chamei ela na conversa, ofereci a proposta de partilha, fiz todos os documentos certinho. Não foi fácil. Naquele momento não sabia que passaria por aquilo, mas tenho uma coisa comigo que nada é para sempre. Tudo é bom enquanto dura. Algo da nossa relação não estava bom para ela e eu não poderia obrigar que ela ficasse comigo.
Desarmei os móveis da casa e ela levou tudo. E eu tive que recomeçar.
Sempre fui de luta. Não fiz faculdade e o meu incentivo era trabalhar. O que vem tem que enfrentar e superar. Não poderia deixar esse obstáculo de uma separação acabar com a minha vida. Tinha que manter a minha resiliência e acreditar que a vida continua.
Um dia, estava descansando, lendo o livro do Augusto Cury. Na capa, há um personagem olhando o pôr do sol e eu me conectei com o lugar em que eu estava. Estava todo sujo, muito quebrado. Quando terminou o pôr do sol, tinham dezenas de pessoas reclamando da sujeira. E isso me deu um despertar.
No outro dia, fui falar com na prefeitura que queria vender drinks e cuidar do lugar. Depois de apresentar a ideia, falaram para mim que eu era louco. O secretário me conhecia e até brincou com a situação: ‘Você está tomando uma gaia e quer ir pro meio do mato porque homem fica doido quando isso acontece’.

Continuei com a minha ideia e fui até o local, quebrei as madeiras podres, peguei o lixo e comecei a vender bebidas. Fiquei dois anos e meio apagado, mas em 2018, quando fizeram as obras de revitalização do deck, deu uma organizada maior no meu trabalho e as coisas começaram a fluir mais.
Pelo lugar já ser turístico, resolvi agregar com uma brincadeira e decidi colocar o nome da barra de “Drink do corno feliz”. Comprei um chapéu de corno para as pessoas fazerem fotos, além de ter centenas de receitas de drinks, para qualquer gosto. Tenho quase 200 receitas de drinks, mas tive que limitar pela acessibilidade, já que não posso colocar as frutas em um freezer.
Como trabalho na área ambiental, não posso elitizar, não posso desrespeitar as leis ambientais. Tenho que manter o que está dando certo, respeitando a natureza e desfrutando do local.
Faço as bebidas com coisas simples e de qualidade. Passei a trabalhar mais com cacau e tenho drinks de vários sabores, além daqueles que não são alcoólicos. Meus clientes são crianças, adultos, idosos, gente de toda religião, orientação sexual, estado do Brasil… Acredito que a pessoa tenha que ser livre para viver do jeito que se sinta bem.
O que é gostoso é que as pessoas não estão acostumadas a ver alguém assumindo que foi corno na vida real. Geralmente é um bullying com quem levou uma gaia, mas no final, todo mundo passa por isso. É uma maneira de não absorver a raiva. Quando a gente fica com ódio daquilo, nos tornamos uma pessoa revoltada, inclusive com nós mesmos. Tudo isso que aconteceu a força divina lapidou e transformou. Agora estou melhor que antes.
Não me relacionei com outra pessoa porque eu tinha que me curar antes. Percebi que não posso procurar felicidade nos outros se, antes, não estou feliz comigo. Tive algumas paqueras no meio do caminho, mas sem muitos compromissos. Só terei um relacionamento quando achar uma cuidadora de corno — e esse tipo não está fácil de encontrar.

