DIA NACIONAL DO FUTEBOL: ESPORTE ENCENA DRAMAS E ALEGRIAS DO POVO BRASILEIRO

19/07/2023

Nesta quarta-feira, 19 de junho, é celebrado o Dia Nacional do Futebol. A data foi escolhida pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD) – atual Confederação Brasileira de Futebol (CBF) – em 1976 como forma de homenagear o esporte bretão e o time mais antigo do país em atividade, o Sport Club Rio Grande, do Rio Grande do Sul, fundado em 1900, apenas seis anos depois de Charles Miller (1874-1953) chegar ao Brasil, após uma temporada de estudos na Inglaterra, com um par de bolas e o livro das regras do jogo. 

O futebol mobiliza pessoas dos mais diferentes tipos e origens. Pobres e ricos, crentes e ateus, pretos e brancos: não será exagero dizer que milhões e milhões de brasileiros e brasileiras também preenchem suas vidas a partir da relação que têm com seu clube do coração. Cláudio Paixão é doutor em psicologia social pela Universidade de São Paulo e professor da Escola de Ciência da Informação da UFMG. Ele pesquisa questões ligadas ao comportamento das pessoas diante da informação. 

O futebol, segundo Paixão, é um lugar em que o indivíduo projeta suas faltas, lacunas e desejos. “Quando vejo alguém jogando bola e ascendendo, imagino que posso fazer o mesmo. Durante aquele tempo fora da realidade, esquecemos as misérias, e as alegrias são potencializadas. Quando acontece o gol, você libera sua raiva, a raiva que sente do patrão, da esposa, do marido, dos garotos que fazem bullying com você”, ele afirma.

Nas ruas, nos campos e nas arquibancadas, a bola também rola para além do jogo e traduz as contradições de uma sociedade que tem o futebol impregnado em seu imaginário popular. O esporte mais popular do planeta gera místicas e une as pessoas com palavras de ordem, gestos, expressões. 

Para Cláudio Paixão, é impossível desprezar o aspecto coletivo e de pertencimento que caracteriza o futebol, que acaba por inventar outra realidade para que milhões de torcedores consigam escapar das mazelas do dia a dia por meio de um esporte que nasceu nas elites brasileiras e, ao longo do século XX, virou uma atividade de massa e foi incorporada pelas camadas mais pobres.   

“Justamente por ser popular, permitiu que as pessoas criassem laços e construíssem outras vidas, uma vida paralela. Quando estou junto a você, me sinto apoiado. Se são quatro, cinco, seis pessoas, e por aí vai, essa energia de grupo vai potencializando e diluindo a responsabilidade pelos atos, tanto para coisas boas quanto para as ruins. O futebol tem essa mágica. Somos uma população eminentemente violentada, para a ralé sobra o futebol. Sociologicamente falando, é uma coisa muito forte”, avalia o psicólogo.

Outro ponto fundamental levantado por Cláudio Paixão é o processo de identificação – do outro e de si mesmo – inerente ao fato de torcer, o que nos leva a pertencer a um grupo social que compartilha a mesma paixão por uma camisa. Muitas vezes, as pessoas não se destacam na vida ordinária dos dias úteis, mas na torcida elas ganham outras identidades. O futebol, com todo seu apelo emocional e dramático, favorece e estimula situações que fogem do racional, salienta o professor. Por isso, ele não se espanta que torcedores vendam apartamentos ou larguem seus empregos para ver uma final de seus times em outro país. 

Há um processo de identificação, todos nós passamos por isso em algum momento da vida – pode ser por uma religião, por uma banda de rock, por um partido político, por um time de futebol. A pessoa constrói parte de sua imagem tendo isso como referência”, explica Cláudio Paixão. “Uma pessoa não faz isso pelo time, mas porque estabelece uma relação e se identifica com algo que, de alguma forma, ela vê como única alternativa”, completa.

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Author: amazonashoje

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